Amazonas

Médica amazonense do Sistema Hapvida relembra trajetória de lutas e vitórias

Os hospitais sempre foram considerados ambientes muito corridos e de pouca conversa. Neles, sempre há uma grande agilidade de pessoas para fazer o trabalho correto de pronto atendimento, e devido essa rapidez, pouco se sabe sobre os profissionais que muitas vezes se dedicam tanto a profissão.

Muitos deles passam por vários percalços e desafios para chegar ao seu objetivo final. Dentre as tantas histórias, encontramos a da médica clínica generalista do sistema Hapvida, Elianete Ramos de Lemos, que falou sobre a trajetória de luta e persistência no interior do Amazonas.

Elianete, que possui especialização em Neonatologia e Educação continuada em Enfermagem, mostra que existem histórias de lutas, que transcendem não somente pela cor da pele, mas pelo esforço e dedicação para realizar um sonho.

“Eu passei no vestibular de medicina aos 38 anos de idade e já era formada em enfermagem há 12 anos. Nem pensava estudar medicina. Estava trabalhando no interior do Amazonas, em Alvarães e lá o diretor do hospital que era meu amigo me incentivou a fazer o vestibular, porque nas horas vagas, depois do trabalho a gente conversava muito, estávamos administrando o hospital de lá que tinha sido inaugurado, eu era a chefe da enfermagem. O Abreu (bioquímico) era o diretor clínico e minha irmã (enfermeira também) era a gerente administrativa, estávamos treinando os funcionários para trabalhar no hospital. Então a UEA fez o vestibular e nós fizemos nossa inscrição, não passei logo, eram cinco vagas para Tefé, eu fiquei em 6º lugar, dependendo da repescagem. Aí passou um tempo, fiquei grávida e tive a minha bebê, quando soube pelas amigas da minha mãe que eu tinha que ir urgente me matricular (o prazo era de uma semana). Aí comecei a estudar três meses depois, de licença maternidade. Tinha uma bebê pequena, um filho adolescente enciumado da irmã – passei 12 anos sem ter filho e uma faculdade pra fazer. As aulas eram diurnas e a bebê fazia alimentação exclusiva do leite materno. Ela não aceitava outra alimentação. Foi horrível os primeiros anos da faculdade, mas consegui fazer. Depois da licença maternidade, tive que voltar a trabalhar também, estudava de dia, trabalhava a noite e ainda tinha que amamentar”, destaca Elianete.

Com o passar do tempo, Elianete precisou se adaptar a nova rotina de estudos, conciliando sempre com o de mãe de recém-nascida, enfermeira e acadêmica de medicina, mas sempre não pensando em desistir. “Por causa da família, trabalho, levei um tempinho para formar, mas consegui, porque a gente tinha que estudar muito e com filho pequeno, quase fico louca, quase desistia, mas meu esposo me ajudou muito a enfrentar esse processo. Quando formei, fui logo sendo contratada, adiantei até a formatura por uns dias para ser contratada. Como iniciante, morrendo de medo de atender o meu primeiro paciente, meu CRM em jogo, eu sozinha e Deus”, diz Elianete.

Mesmo com a vasta experiência dentro de um hospital atuando na área de enfermagem, Elianete confessa a insegurança que sentiu, quando assumiu outra posição no trabalho. “Fui trabalhar num posto de saúde inicialmente. Depois de uns sete meses, fui de novo trabalhar no município de Presidente Figueiredo (AM), mas desta vez já no hospital. De lá, onde estou até hoje, depois passei por Tefé, minha cidade, trabalhava paralelo a Figueiredo na urgência e emergência, mas o bom é que ficava em contato com meus pais e isso me confortava por uns dias. Nesse tempo, entrei na menopausa, onde adquiri pressão arterial sistêmica e trato até hoje. Aí fiz o concurso da Susam para Figueiredo e passei”, relata a médica.

Quanto ao preconceito e discriminação racial, Elianete acredita que ele exista sim, mas nunca passou por esse tipo de situação. Por onde passou, sempre foi elogiada pela sua competência e dedicação. “Nunca senti preconceito em relação a cor. O pessoal me achava muito inteligente, quando novinha. Eu era concursada lá no Distrito Federal e lá ninguém nem me chamava de ‘índia’ e nem de ‘nega’. Chamavam-me pelo meu nome: Elianete. Me sinto representante da minha etnia, da cor, e nunca pensei em me sobressair por causa dela. Eu sou um modelo disso, no meu caso sou cafuza, mistura de negro com índio”, destaca Elianete.

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, Elianete revela que não se abateu, e sim se sentiu estimulada em ir atrás de seus sonhos. “Para estudar nunca tem idade, seja medicina ou que achar melhor para sua vida. Não vi discriminação a minha pessoa pela cor ou origem, porque tudo que consegui foi através de concurso e provas. E mesmo alguns empregos particulares, que tive como enfermeiro ou médico, foi por minha competência. Tenho algumas colegas de outra profissão que às vezes me perguntam como foi e eu digo, não foi fácil, mas tem que ter força de vontade para continuar, pois o mais difícil é o vestibular e a primeira pedra já foi afastada”, afirma a médica.

Atualmente, Elianete atende nos hospitais Geral Eraldo Neves Falcão em Presidente Figueredo e há dois anos no Sistema Hapvida como Clínica Generalista, e ainda se divide nas funções de mãe, esposa e defensora no direito daqueles que queiram ter um futuro brilhante na área da saúde. Histórias como estas acabam se tornando inspiração para vários amazonenses e demais brasileiros que queiram trilhar um caminho de sucesso.

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