Bolsonaro quer usar CPI para ganhar atestado de ‘ficha limpa’ na pandemia
A conversa telefônica entre o presidente Jair Bolsonaro e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), vazada no domingo (11) pelo parlamentar, deixou claro, na visão de parlamentares da oposição, a estratégia do governo em usar a investigação e fabricar um salvo conduto para Bolsonaro usar nas eleições de 2022.
“CPI que não investiga é pior do que CPI não instalada”, resumiu um experiente observador do Senado, para quem a inclusão de governadores e prefeitos é circo com objetivo de tumultuar as investigações e tirar foco dos supostos crimes cometidos pelo presidente. E acabar fabricando a seu favor um atestado de “ficha limpa na pandemia”.
“Kajuru, você tem que fazer do limão, uma limonada. Por enquanto é um limão que tá aí. Tá para sair a limonada”, ensina Bolsonaro ao senador. Já foi o tempo em que CPIs dóceis ao Planalto eram chamadas de pizza. Na Era Bolsonaro virou refresco.
O limão do Pacheco
A receita de limonada de Bolsonaro tem um gosto amargo para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O principal argumento de Pacheco para evitar a CPI é que a investigação irá atrapalhar o combate à pandemia. Pois bem: a conversa entre o presidente e o senador tem 6 minutos e em momento algum Bolsonaro reclama de possíveis entraves ao trabalho do governo. E vai além, afirmando que muitas mortes poderiam ter sido evitadas. “Podia morrer menos gente”, admite, culpando governadores e prefeitos. Ou seja, Bolsonaro confessa que há o que se investigar.
“Pacheco se preocupa mais com o trabalho do Executivo do que o próprio presidente. Tem alguma coisa fora do lugar”, observa um parlamentar.
O abacaxi de Kajuru
E entre o limão e a limonada há ainda um abacaxi gramatical. Kajuru disse que o ministro Barroso estava “pretento” para julgar causas referentes à CPI. Ao que Bolsonaro ensinou: “é prevento”. Bolsonaro estava certo e nem culpou Paulo Freire.